"Somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo" (Carl Sagan)

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domingo, 11 de fevereiro de 2018

Sentimentos & Emoções - Qual a Diferença?


Há quase 1 mês que não posto nada aqui. Voltarei a postar semanalmente. E o assunto escolhido para este domingo é "Sentimentos & Emoções". As pessoas usam as palavras "sentimento" e "emoção" como se fossem sinônimos. Mas segundo a psicologia (a ciência escolhida desta semana), existem diferenças. Você sabe quais são? Se a reposta for "não", venha e vamos juntos nessa viagem interessantíssima através da mente humana...

Antes de entrarmos nessa discussão, vamos usar um pouquinho de neurociência para conhecer a área cerebral responsável por esses fenômenos biológicos: o Sistema Límbico. Em nossa última postagem sobre a mente humana, vimos um pouco sobre a Teoria do Cérebro Trino (que você pode ler aqui). Dentro dessa teoria, o chamado "cérebro dos mamíferos" é considerado o "cérebro emocional", justamente por conter a região chamada de sistema límbico. Observe a imagem:


O sistema límbico é dividido em diversas áreas, cada uma com uma função diferente:
  • Amígdalas - Existem duas amígdalas (uma em cada hemisfério cerebral). Não confundam com os órgãos linfoides localizados na garganta (estes, hoje, são chamados de "Tonsilas" pra evitar confusão). As amígdalas cerebrais estão relacionadas ao comportamento agressivo. Nos machos é maior do que nas fêmeas, por isso, os machos tendem a ser mais agressivos. Se removidas, tornam o indivíduo dócil. Se estimulada eletricamente, provoca violenta agressividade. Em humanos, está também relacionada à afeição entre indivíduos.
  • Hipocampo -  Envolvido na memória de longa duração, aprendizado.
  • Tálamo - Relacionado à reatividade emocional. 
  • Hipotálamo - Atua na termorregulação do corpo, além de manter comunicação com todo o sistema límbico. Tem um forte papel nos estados emocionais do indivíduo (mais importante nos sintomas físicos da emoção do que na geração desses estados).
  • Giro Cingulado - Coordena odores e visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Participa também da reação emocional à dor, regulação do comportamento agressivo e estados de depressão e ansiedade.
  • Tronco cerebral - Responsável pelas reações emocionais reflexas primitivas, além da manutenção do ciclo de vigília e sono.
  • Área Tegmental Ventral - Secreta dopamina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. Responsável pelo mecanismo de recompensa gerado pelas satisfações comuns da vida. Uma deficiência nessa área pode levar o indivíduo a recorrer a vícios.
  •  Septo - Sensações de prazer, mais especificamente as sexuais (orgasmos).
  •  Área Pré-Frontal - Expressão de estados afetivos. Sua área dorsolateral está relacionada ao raciocínio em ações dirigidas a um objetivo. Sua área orbitofrontal é uma interface entre os domínios afetivo e emocional, além de tomadas de decisão na vida pessoal e social. A área ventrolateral funciona como um auxiliar da dorsolateral, com papel igualmente importante na motivação do comportamento. As 3 áreas juntas contribuem para o que chamamos de "funções executivas". A perda de responsabilidades sociais e capacidade de concentração e abstração estão relacionadas a lesões nesta área. 
As 3 regiões da Área Pré-Frontal

Agora que já conhecemos os detalhes da região cerebral responsável pelos sentimentos e emoções, vamos começar a diferenciá-los:

Sentimentos são aquilo que os animais sentem em situações que vivenciam. A empatia é o conhecimento sobre os sentimentos dos outros e a apatia é a falta se sentimentos. Sentimentos também podem designar uma disposição mental ou propósito de uma pessoa para outra ou em direção a algo. Sentimentos, nesse contexto, seriam o resultados da tomada de decisão do indivíduo (uma disposição mental) e não o conjunto de emoções (sensações corporais). As sensações físicas seriam sentidas em decorrência da decisão tomada. É o caso do amor, que é considerado nesse contexto como a decisão pelo bem do outro e não pelas emoções que essa decisão gera. É aquilo que é chamado por alguns de amor ágape. Todos os sentimentos (ou disposições mentais) vão promover emoções (sensações) no corpo. O que gera muitas vezes a confusão, é que, em muitas vezes, usamos um mesmo nome para denotar um sentimento e uma emoção relacionada a esse sentimento. 

Emoções são experiências subjetivas relacionadas ao temperamento, personalidade e motivação do indivíduo. São importantíssimas na sobrevivência do indivíduo, quando o ajuda reagir aos estímulos ambientais ou comunicar informações sociais. As emoções podem ser intuitivas (vindas da amígdala) ou cognitivas (vindas do córtex pré-frontal). Existe uma diferença entre a emoção e sua expressão no comportamento. As pessoas se comportam como resultado de seus estados emocionais (por exemplo, chorosa quando triste ou sorridente quando alegre), mas podem apresentar esses mesmos estados emocionais sem demonstrar comportamentos característicos, o que mostra que são fatores independentes. As emoções podem ser classificadas de diversas formas, assim como combinadas gerando outras emoções (tema para uma futura postagem). Uma emoção pode durar segundos (como a surpresa) ou anos (como o amor).

Existem diversas teorias para explicar a origem das emoções, mas usaremos aqui a Teoria Neurobiológica, a qual é embasada no mapeamento do sistema límbico (descrito anteriormente). Segundo essa teoria, a emoção humana é um "estado mental organizado do sistema límbico que pode ser prazeroso ou doloroso", regulado pela atividade dos neurotransmissores. Essas reações emocionais, por sua vez, demonstram os estados mentais (sentimentos) nos mamíferos. O amor, por exemplo, envolve a região do giro do cíngulo e está relacionado ao cuidado parental com a prole. Alguns estudos presumem que antes do cérebro emocional (cérebro dos mamíferos), os controle motor dos animais reagia às indicações dos sentidos com padrões pré-programados, ou seja, como um mero ato reflexo. É proposto que com o surgimento da emoção e da memória emocional através do desenvolvimento do sistema límbico, isso tenha então mudado. Em contrapartida, existem estudos recentes que mostram que há áreas não límbicas relacionadas às emoções. Por fim, há ainda uma abordagem que distingue as emoções em homeostáticas (sede, fome, frio, calor, etc.) e emoções clássicas (raiva, medo, amor, alegria, etc.). Podemos com isso tudo perceber que é uma área da ciência que precisa ser ainda muito melhor explorada...

Conclusão: Emoção é um estímulo neural gerado pelo sistema límbico que impele o organismo para a ação (Freitas-Magalhães, 2007), gerando sensações fisiológicas corporais. Já o sentimento é a emoção filtrada pelos centros cognitivos do cérebro (em especial o lobo frontal), sendo influenciadas por nossas experiências pessoais, memórias e crenças, às vezes até mesmo de forma inconsciente. Sendo assim, resumindo, um estímulo externo pode gerar uma determinada emoção, manifestada por alterações fisiológicas corporais. Essa emoção, por sua vez, pode evocar memórias, experiências pessoais e crenças, gerando um determinado sentimento. Por fim, esse sentimento pode retroalimentar a emoção, ampliando a alteração do estado fisiológico. Ficou mais claro agora? Ter consciência sobre como você reage a determinada emoção ajuda na manutenção de seu equilíbrio emocional. A habilidade de controlar seu próprio estado emocional é chamada de Inteligência Emocional (tema de outra futura postagem).
 
Curiosidade: Paul Ekmann, um dos primeiros psicólogos a pesquisar as emoções e a linguagem corporal, reconheceu as emoções de tristeza, alegria, raiva, desprezo e nojo. O que elas têm em comum é que são reações diretas e rápidas à circunstâncias do ambiente e da vida e podem ser reconhecidas por qualquer ser humano. São elas que geraram os personagens da animação "Divertida Mente", da Pixar, ganhadora do Oscar de Melhor Animação em 2016. Outra curiosidade é que bebês em desenvolvimento no útero materno são influenciados pelas emoções sentidas pela mãe (tema de mais uma futura postagem, associada à Epigenética. Aguardem!)

Raiva, Nojinho, Alegria, Medo e Tristeza

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