"Somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo" (Carl Sagan)

"Somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo" (Carl Sagan)

domingo, 25 de setembro de 2016

Por que Agnosticismo?


Uma outra explicação que julgo necessária aqui no blog antes de começarmos as discussões, é o porque do uso da frase "uma visão agnóstica do Universo" lá próximo do cabeçalho, então...
Vamos lá!

O Universo que nos cerca pode ser visto de diversas maneiras. Uma pessoa teísta ou religiosa num sentido geral, tende a acreditar que a criação e a força motriz de nosso universo é resultado da ação de alguma divindade. Um ateísta tende a acreditar que tudo no Universo pode ser explicado através da matéria e as leis da física. Quem estaria certo nessa discussão?

Quando eu era criança, costumava filosofar sobre a origem do Universo (sim, sempre gostei desses grandes enigmas). Cresci dentro de uma concepção Cristã e cheguei a ter aulas de religião na época, na escola. Quando muito novo tinha pavor do tal do "inferno" para o qual poderíamos acabar parando se não obedecêssemos certas regras. Um pouco mais velho, ainda na infância, li um livro que falava sobre "todas as religiões do mundo". Fiquei intrigado tentando entender quem estava certo nessa história toda de religião, pois queria seguir as regras corretas, não queria errar. Uma delas, que me chamou muito a atenção na época, e cujos preceitos admiro até hoje, foi o Hinduísmo. Entretanto, o que mais me chamou a atenção na época, e me causou certo temor, foi o fato de que os Hindus consideram as vacas como animais sagrados e o consumo de sua carne um pecado gravíssimo. Lembro bem que o texto dizia que "aquele que comesse carne da vaca passaria tantos anos no inferno quanto fossem os pelos do animal". Não é preciso dizer que uma criança que acredita nisso e que tinha comido carne a vida inteira até ali surtaria, né? rsrs Depois de muito racionalizar, e após terminar de ler o resto do livro, percebi que não tinha jeito... De uma maneira ou de outra eu estaria no inferno para alguma das religiões descritas. Então com o tempo fui assimilando a questão e abstraí desse temor infundado.

Os anos se passaram e, com a educação formal, fui aprendendo o quanto que religiões foram historicamente responsáveis pela manipulação de povos em nome de objetivos escusos. Religiões mataram muitos ao longo da história da humanidade, inclusive aqueles que tentaram mostrar através da ciência que seus conceitos estavam errados. E nessa mesma época já estava adquirindo o gosto pela ciência e descoberta que carrego até hoje, tendo me tornado, inclusive, um cientista e professor. A ciência desmascarava muitos mitos que os religiosos teimavam em não aceitar. Então uma visão mais voltada ao ateísmo começou a surgir em mim. Porém, nessas reflexões filosóficas sobre a origem do Universo que sempre tive, uma questão me veio à mente e me fez parar por aí... Mesmo que pudéssemos explicar a origem de tudo através da Teoria do Big Bang, sempre haveria uma pergunta inicial insolúvel. De onde veio a energia que gerou a matéria que gerou o Universo? Como isso aconteceu? Quem deu início à tudo? Mesmo que eu fosse respondendo cada uma dessas questões, viria uma nova pergunta: "mas de onde veio isso?" E mesmo que um religioso utilizasse esse conceito como base pra argumentar que uma divindade criou tudo, a pergunta permaneceria a mesma... Se eu digo "deus criou o Universo"... eu posso fazer a pergunta "E quem criou deus?" ou "De onde ele veio?". É um ponto onde até mesmo a religião falha... não existe como explicar a origem da origem! A gente simplesmente define um ponto e diz: "esta é a origem", ignorando qualquer fato que anteceda esse fenômeno. Acaba sendo uma aceitação...

Dentro desse sentido, já na adolescência, elaborei na minha cabeça que o fenômeno da existência é um mistério insondável. Talvez seja algo que transcenda a capacidade humana de entender. É possível que nunca tenhamos uma resposta a essas perguntas. Então, se o mistério da origem do Universo é algo que não podemos compreender, seria pretensão demais optar por uma vertente de pensamento sem ter as provas necessárias. Não posso afirmar que foi um "deus" que criou o Universo, mas não tenho também como provar que não foi (até mesmo porque se trata de uma hipótese não falseável, falaremos disso mais adiante). E foi nesse momento topei com a visão agnóstica de mundo. Me pareceu (e parece ainda hoje) a melhor forma de encarar essas questões. Passei a não afirmar, nem refutar certos conceitos. Todas as vertentes passaram a ser válidas. Passei a encarar cada informação nova como uma possibilidade. Costumo brincar, dizendo que as guardo em minha "caixinha de ideias". Informações, mesmo as mais absurdas, são mantidas ali... no cantinho da minha memória para que eu saiba que existe essa possibilidade, ainda não devidamente explicada. Só considero como verdade aquilo cujas provas são irrefutáveis. E mesmo assim, ciente de que as "verdades" não são imutáveis.

Há quem diga que existem várias verdades possíveis. Eu discordo dessa afirmação. Na minha concepção, a verdade é uma só! Nós é que formulamos versões alternativas na ausência de evidências. Imaginemos que um crime ocorreu numa grande cidade. Um detetive irá coletar o maior número de evidências que o ajudarão a solucionar o caso. Dependendo das pistas encontradas, ele afirma que o crime ocorreu da forma "A". Um segundo investigador, pode reunir outros tipos de evidências e dizer que o crime ocorreu da maneira "B". Pode ser que um deles esteja certo. Pode ser que nenhum dos dois esteja certo. Mas o crime ocorreu e isso é um fato. E mesmo que existam "n" vertentes para explicá-lo, ele ocorreu de uma única forma. Essa é a "verdade absoluta", mesmo que nunca a encontremos. No âmbito da ciência e dos estudos sobre o Universo, acredito que o mesmo possa ocorrer. Podemos elaborar "n" vertentes de pensamento que o explique, desde vertentes religiosas até vertentes científicas, mas pode ser que nenhum de nós tenha encontrado a verdade absoluta. Temos então no momento "verdades relativas", embasadas nas evidências que conseguimos coletar e na capacidade de nossos sentidos de experimentar o universo ao nosso redor. Qualquer coisa que fuja a isso é insondável (ao menos no momento).

Enfim... essa é a maneira pela qual investigo a nossa realidade. Uma investigação que considera todas as vertentes de pensamento como "possíveis", mas trabalhando sempre dentro daquilo que as evidências nos mostram como mais "prováveis". Trata-se de um estudo que não nega nada prontamente, mas ao mesmo tempo não aceita nada prontamente. O ceticismo é uma ferramenta fundamental, porém, não podemos usá-lo de maneira rígida, inflexível (também falaremos disso mais adiante). Nesse sentido, como diria o filósofo Descartes "Duvido de tudo! Só não duvido de minha dúvida!". Essa é a filosofia do blog. Isso é o que eu quis passar com "uma visão agnóstica do Universo". E assim continuamos nossa viagem rumo ao "caminho infinito" do Universo...

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Por Que Espiritualidade?

Para evitar o mal entendimento da nova proposta, acredito que essa postagem se faz necessária. O blog continua abordando o Universo de um ponto de vista científico. Entretanto, a abordagem filosófica que sempre teve espaço, estará mais voltada a essa questão da espiritualidade humana. E entendam... Espiritualidade, Espiritualismo e Espiritismo são coisas bem diferentes. Vamos entendê-las!

Espiritismo:
O Espiritismo é uma doutrina religiosa codificada pelo francês Allan Kardec e, por isso, muitas vezes é chamada de Kardecismo. Trata da relação entre os espíritos e seres humanos. Segundo afirmam os espíritas, o chamado "plano espiritual" está em constante contato com o nosso "plano material", numa tentativa de guiar os passos da humanidade rumo a um mundo melhor. Apesar de seus seguidores na maioria das vezes dizerem que o kardecismo se trata de uma ciência, a doutrina não segue a rigorosidade metódica da ciência e apresenta hipóteses não falseáveis, ou seja, hipóteses as quais não se podem provar erradas. Acabamos então caindo no âmbito da e, por isso, mesmo que se utilizem certos conceitos científicos e parte da metodologia científica, não podemos considerá-lo como uma ciência verdadeira. O Espiritismo é, no máximo, uma Pseudociência.

Espiritualismo:
O Espiritualismo, por sua vez, é uma vertente filosófica e/ou religiosa que acredita na existência de espíritos e/ou alma independentes da matéria. É um pensamento contrário ao Materialismo, o qual só admite a existência da matéria.  Nesse sentido, todo espírita é um espiritualista, embora nem todo espiritualista seja um espírita, caso não siga a doutrina kardecista. 

Espiritualidade:
Por fim, Espiritualidade é uma busca por um significado maior para a vida e para a própria existência, a procura de uma conexão entre o indivíduo e o todo. Nesse sentido, a espiritualidade não está diretamente relacionada à religião. Inclusive, muitos ateus consideram-se pessoas espiritualizadas (os astrônomos Carl Sagan e Neil deGrasse Tyson, e o físico brasileiro Marcelo Gleiser, são bons exemplos). Espiritualidade é algo que transcende o intelecto e, por isso, muitos não conseguem defini-la, apenas experimentá-la.

A escolha da espiritualidade como contraparte da ciência nesse blog se deve então a esse motivo: o reconhecimento de que nossa realidade é parte de um universo maior e, até o momento, insondável. Entretanto, sem esquecer de que a ciência, apesar de limitada, ainda é a ferramenta mais segura que dispomos para compreender esse nosso universo e seu equilíbrio.


"Somos feito de Poeira de Estrelas" (Carl Sagan 1934-1996)