"Somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo" (Carl Sagan)

"Somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo" (Carl Sagan)

domingo, 29 de outubro de 2017

Atmosfera e Clima em Diferentes Mundos

Ontem estava assistindo pela terceira ou quarta vez (sim, eu adoro!) o filme Prometheus, de Ridley Scott, o qual se trata de uma prequência da série "Alien - O 8º Passageiro". O filme, apesar de muito criticado pelos fãs, apresenta vários fenômenos físicos e biológicos interessantes para aqueles que são fãs de ficção científica. Numa das cenas do filme, ocorre uma chuva de sílica (algo similar ao vidro) em alta pressão, causando vários danos aos personagens e veículos, causando ainda interferência eletrostática nos aparelhos de comunicação. Muitos podem acreditar que tal tipo de chuva seja mero fruto da imaginação dos roteiristas. Mas e se eu disser que não é? Acreditariam? Pois é, acreditem: esse tipo de fenômeno realmente existe em nosso Sistema Solar. Resolvi então, a partir daí, compilar alguns desses fenômenos atmosféricos dos mais bizarros já descobertos pela ciência e postá-los aqui. Então, vamos lá!

Mercúrio:

Mercúrio é um planeta que, devido à baixa atração gravitacional que exerce, não consegue nem mesmo prender uma atmosfera à sua superfície. Portanto, não teria nem como ter fenômenos atmosféricos. Por conta disso, não consegue segurar calor e sua temperatura varia de 426ºC (de dia) a -183ºC (à noite). Entretanto, apesar das altas temperaturas, é possível encontrar gelo em seus polos, em crateras profundas que nunca são iluminadas pelo Sol. Acredita-se que essas camadas de gelo podem estarem cobertas de regolito (material heterogêneo e superficial que cobre uma rocha  sólida, incluindo poeira, solo, rocha quebrada e outros materiais correlatos, se tornam imunes à sublimação (passagem da matéria do estado sólido pro gasoso). 

Vênus:

Vênus, apesar de ser o segundo planeta em distância do Sol, é mais quente que seu antecessor, Mercúrio. Isso ocorre devido à sua atmosfera extremamente densa e rica em CO2, o que provoca um gigantesco efeito estufa, elevando a sua temperatura a cerca de 461ºC. A pressão atmosférica na superfície chega a ser 92 vezes maior que a da Terra. Mas o mais interessante, sem dúvida, é o fato da sua atmosfera apresentar nuvens formadas por dióxido de enxofre e ácido sulfúrico. Consegue imaginar uma chuva de puro ácido sulfúrico? Há muitas descargas elétricas na atmosfera do planeta e um vórtex duplo no polo sul do planeta.

Marte:

A atmosfera de Marte é oposta a de Vênus. Devido ao fato de não ter mais uma magnetosfera (campo magnético que circunda planetas rochosos), o vento solar (formado por radiação cósmica) atinge o planeta de forma mais intensa, destruindo átomos da atmosfera, tornando-a bem menos densa que a da Terra (cerca de 0,6% da nossa). É uma atmosfera com cerca de 96% de dióxido de carbono e possui um fenômeno curioso: duas plumas de metano circulam periodicamente pelo planeta, como duas massas de ar terrestres, só que feitas de metano. As estações do ano são bem parecidas com as da Terra devido ao eixo de inclinação do planeta que é quase igual ao nosso. Marte apresenta ainda neve na forma de gelo seco e as maiores tempestades de poeira do Sistema Solar, que podem englobar até mesmo o planeta inteiro, nos períodos em que passa mais perto do Sol, com ventos que atingem cerca de 200km/h. 

Júpiter:

O maior planeta do Sistema Solar apresenta também alguns dos fenômenos mais interessantes. Sua atmosfera é rica em cristais de amônio e possivelmente hidrossulfeto de amônio, organizados em bandas que se situam em diferentes latitudes, circulando no sentido contrário à rotação do planeta a uma velocidade de cerca de 100m/s (360km/h). Tais nuvens interagindo com outras moléculas são capazes de gerar raios 1000 vezes mais potentes que os da Terra! A grande mancha vermelha de Júpiter é nada mais, nada menos, que um gigante vórtex contínuo com 3 planetas Terra de diâmetro! E pra fechar, devido ao seu tamanho, a gigantesca força de gravidade faz com que a pressão atmosférica seja 3 milhões de vezes maior que a da Terra!

Saturno:

Saturno possui uma atmosfera com cerca de 96% de hidrogênio e uma mistura de diversos hidrocarbonetos e água em camadas distintas, além de cristais de amônio e hidrossulfeto de amônio como em Júpiter. O interessante é que as distintas camadas apresentam temperaturas diferenciadas. Na camada onde apresenta água chega a 0ºC, o que já é uma temperatura bastante alta para a distância relativa do Sol. Mas em altitudes mais baixas, próximas da superfície, onde a pressão atmosférica é extremamente alta, a fricção entre as moléculas é capaz de gerar temperaturas de até 700ºC! (Só perdendo para Júpiter, que em seu interior, pode atingir até 30.000ºC, quase o necessário para "acendê-lo" como uma estrela). Já os ventos atingem uma velocidade de 250 a 450 m/s (1800km/h), permitindo a existência de nuvens supersônicas (que viajam mais rápido que o som). Assim como em Júpiter, existem vórtexes de milhares de kilômetros de diâmetro e descargas elétricas 1000 vezes mais potentes que as terrestres. 

Urano:

Os dados atmosféricos desse planeta são similares aos anteriores: uma atmosfera rica em hidrogênio e hélio (embora em taxas inferiores aos anteriores), também rica em hidrocarbonetos, amônio e hidrossulfeto de amônio, dióxido e monóxido de carbono, etc. Uma camada de névoa de hidrocarbonetos recobre o planeta, assim como também ocorre em Júpiter e Saturno. Também possui áreas superaquecidas em sua atmosfera. 

Netuno:

O último planeta do Sistema Solar possui atmosfera com composição similar à de Urano. Também apresenta fenômenos como vórtexes e ventos supersônicos. 

Deixando de lado essas impressionantes características atmosféricas e voltando às questões meteorológicas nesses planetas, vamos a mais uma série de bizarrices:

  • Devido às altas temperaturas de Vênus, é possível que existam certos metais vaporizados na atmosfera, o que provocaria uma chuva de telúrio, por exemplo.
  • Em Titã, satélite de Saturno, existe um ciclo hidrológico de hidrocarbonetos, com lagos de metano e etano, montanhas formadas por água congelada e vulcões gelados (criovulcões)
  • Em Júpiter, Saturno e até em Netuno, devido à alta concentração de carbono na atmosfera, submetidos a uma gigantesca pressão (provocada pela força gravitacional), é possível a existência de uma chuva de diamantes, já que diamantes são feitos de carbono compactado em altíssimas pressões.
  • No exoplaneta (planeta fora do Sistema Solar) HD 189733b, localizado a 63 anos-luz da Terra, orbita a estrela HD 189733 A. Lá, a temperatura média é em torno de 1000ºC e há ventos de 7000km/h. Nessas condições, partículas de silício podem evaporar e provocar chuva de pequenas gotas de vidro derretido. 
  • No exoplaneta OGLE-TR-56b está localizado a cerca de 4800 anos luz, há a ocorrência de chuva de pedaços de ferro (é só imaginar uma temperatura tão alta que esse ferro evapore e se condense nas partes maios altas da atmosfera).
  • A 500 anos-luz da Terra no Planeta CoRot-7b o mesmo processo se dá por rochas que evaporam e se condensam. Já imaginou uma chuva de magma?
Por hoje é só... Essas são apenas algumas das bizarrices já descobertas por astrônomos em exoplanetas. Há ainda muitas outras que serão mencionadas em algum momento nesse blog. Vocês teriam criatividade pra imaginar outras que ainda podem vir a ser descobertas no futuro?

domingo, 22 de outubro de 2017

Entendendo a Genética Molecular

Já tem um tempo que quero falar aqui sobre descobertas na área epigenética, mas nunca encontrei espaço nas edições anteriores desse blog. Há descobertas importantes nessa área que gostaria de comentar, mas não adiantaria fazer tais comentários se eu não explicar antes, de maneira bem didática, o que vem a ser a epigenética. E para um melhor entendimento, antes de entrar na epigenética propriamente dita, preciso fazer uma revisão básica do que você sabe de genética molecular pra poder entender os conceitos. Essa é a ideia desse artigo. E então, vamos lá?

1) A Molécula de DNA:

Nosso material genético, o DNA, funciona como uma espécie de "manual de instruções" do indivíduo. Toda e qualquer informação sobre o seu corpo está "escrita" em seu DNA sob a forma de uma sequência de moléculas chamadas de nucleotídeos. Esses nucleotídeos são as letrinhas A, T, C e G que normalmente vemos em representações de moléculas de DNA nos livros, filmes, reportagens, etc. Essas letrinhas, os nucleotídeos, possuem um pareamento específico entre elas. O nucleotídeo "A" sempre se liga com "T" (e vice-versa) e o nucleotídeo "C" sempre se liga com "G" (e vice-versa). Conforme essas moléculas vão se ligando, provocam aquela torção em espiral que você provavelmente também já conhece, a chamada dupla-hélice do DNA.

 Nucleotídeos Pareados / Dupla-Hélice

2) O Processo de Replicação:
 
Existem aproximadamente 3 bilhões de pares de nucleotídeos numa única molécula de DNA humano. Em cada uma das células do seu corpo (cerca de 10 trilhões delas), há uma cópia desse DNA, e toda vez que uma nova célula é gerada, é preciso fazer uma cópia desse manual antes. Fazendo uma analogia: imagine que o DNA é o manual de construções de uma casa. Tudo o que você precisar saber sobre ela, desde a fundação, alvenaria, hidráulica, elétrica, até a cor das pinturas, mobília interna, etc., está descrito ali. Imagine que você utiliza essa manual e constrói a casa inteirinha, conforme descrito no manual. Agora imagine que você quer construir uma vila inteira de casas iguaizinhas a essa primeira que você acabou de fazer. Você então vai até uma fotocopiadora e faz uma cópia completa desse manual, página por página. Dá esse manual para outro pedreiro e ele o executa de cabo a rabo, fazendo outra casa idêntica à primeira. O manual é fotocopiado e passado a outro pedreiro que faz uma terceira casa, e assim por diante. Ao final, temos quantas casas quisermos, cada uma delas com uma cópia do manual de instruções em seu interior, pronto para ser consultado sempre que preciso. Essa vila de casas é seu corpo, cada casa uma célula, os manuais, cópias do seu DNA.

A Replicação do DNA. Para fins didáticos, basta entender que a molécula original é aberta (as duas fitas são separadas) e uma nova fita complementar é sintetizada para cada uma delas

3) O Processo de Transcrição

Seguindo a analogia da casa... Imaginemos que, em algum momento, uma dessas casas precisa de um reparo. Ou então o seu dono quer fazer uma pequena mudança estrutural (quem sabe dividir uma grande sala e transformá-la em dois pequenos quartos para seus filhos?). Nesse caso, ele consulta o manual para saber como proceder na modificação. Só que esse manual contém mais de 3 mil páginas! É enorme, pesado, e a maior parte das informações é desnecessária ao processo. O dono da casa só quer saber como erguer uma parede idêntica às anteriores. O que ele faz então? Ele abre o manual na página correspondente ("como levantar uma parede") e faz uma cópia dessa página, apenas, fechando o manual em seguida, e guardando-o onde costuma ficar guardado. É exatamente isso que ocorre em nossas células. Toda vez que precisamos de uma informação específica do DNA, a célula o abre, copia apenas o trecho desejado, remove essa cópia e fecha o DNA. Lembrando que no caso, toda vez que o DNA é transcrito, a informação não sai na forma de um pedaço de DNA, mas sim de uma fita de RNA. Esse RNA gerado é uma molécula que contem a informação daquele trecho de DNA. É como se no caso do manual, o indivíduo que transcreveu a informação da página, a tivesse colocado em outro idioma, como por exemplo, o alemão.

Transcrição do DNA para RNA

Uma animação bem didática explicando o processo


4) O Processo de Tradução (Síntese Proteica):

Ainda na analogia... Após fazer a transcrição da informação, o pedreiro tem em sua mão uma folha contendo todas as informações que precisa, mas escritas em alemão, idioma que ele não entende. Ele precisa agora que alguém traduza a informação para ele, de forma que ele possa executar o seu trabalho. No âmbito celular, existem 3 moléculas de RNA necessárias para que tal tradução ocorra. São elas: O RNA Mensageiro (RNAm), o RNA Transportador (RNAt) e o RNA Ribossômico (RNAr), como vistos na imagem abaixo:

 Os 3 tipos de RNA

O RNAm traz a "mensagem", ou seja, a informação necessária para a síntese de uma proteína. O RNAt transporta à matéria-prima necessária à síntese proteica, ou seja, os aminoácidos que comporão a proteína. Já o RNAr, forma Ribossomos, organelas celulares responsáveis por fabricar as proteínas, de acordo com a informação proveniente do RNAm e utilizando a matéria-prima trazida pelo RNAt. Voltando às analogias, é como se o RNAm fosse a folha de instruções, o RNAt um carrinho de mão trazendo tijolos e cimento, e o Ribossomo o pedreiro em si.
O processo de Tradução. O ribossomo corre por cima da fita de RNAm, lendo-a, e encaixando um aminoácido correspondente à cada trio de nucleotídeos (chamados de códons).

 Outra animação bem didática explicando o processo

5) O Código Genético

Deixando a analogia de lado agora... Chamamos de códon cada conjunto de 3 nucleotídeos do RNAm. Cada códon é pareado com um anticódon da molécula de RNAt correspondente. Existem 64 códons possíveis. Há uma correspondência entre esses códons e os aminoácidos que são adicionados. Tal correspondência é chamada de código genético e é visto na tabela abaixo:  

Observe que existem 3 códons para "parada" da síntese proteica. O códon AUG (que corresponde ao aminoácido Metionina - MET) também serve como códon de início da síntese proteica.

6) Genes e Mutações

Bom... Vimos até então que o DNA contém TODA informação sobre seu corpo, que o RNA Mensageiro (RNAm) é responsável por transcrever uma pequena informação do DNA, e que essa informação é traduzida na forma de proteínas através de um aparato formado por 3 tipos de RNA's, seguindo o código genético. Agora podemos então, finalmente entrar com o conceito de "gene". Um gene é então um trecho de molécula de DNA responsável pela síntese de uma determinada proteína. E essa proteína tem uma determinada função no organismo. Se houver algum tipo de alteração na sequência de nucleotídeos desse gene, os códons correspondentes serão alterados e, consequentemente, de acordo com o código genético, haverá uma mudança na sequência de aminoácidos da proteína produzida, como visto na figura abaixo:

No exemplo acima, a troca de um "T" por um "A", alterou o aminoácido Glutamina por um aminoácido Valina, o que alterou a forma da hemácia (Anemia Falciforme)

Exemplos de mutações gênicas que podem ocorrer: substituição, inserção ou deleção de um nucleotídeo. Nos 3 casos haverá mudança na sequência dos nucleotídeos que compõe o códon, alterando o aminoácido adicionado e, consequentemente, a proteína formada.

6) Regulação da Expressão Gênica:

Para encerrar esse "resumão" básico de genética molecular, precisamos entender que existem fatores que regulam todo esse processo de expressão gênica. Existe uma região do gene chamada de promotor, onde a RNA Polimerase (Enzima que realiza o processo de transcrição) se encaixa para iniciar o processo. Se algum fator (proteína ou outra molécula de RNA) se ligar nesse sítio promotor, ela pode inibir todo o processo de síntese proteica, uma vez que a RNA Polimerase não conseguirá se encaixar mais. Observe o esquema abaixo:
 

Bom... basicamente era isso que tinha a mostrar hoje. Você deve estar se perguntando nesse momento então: "Qual o objetivo dessa aula?" O objetivo, como disse no início, é chegar até a Epigenética, onde proporei várias discussões. Usaremos esse resumo algumas vezes, sempre que for necessário. E se você achou o assunto interessante ou já conhecia e gostaria de aprofundar, vou deixar alguns links como sugestão. Esses links foram retirados de um blog sobre genética bastante completo e didático.
Aproveitem! ;-)

Aula 1: Estrutura dos Ácidos Nucleicos
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2011/03/genetica-molecular-ciencias-biologicas.html

Aula 2: Replicação

http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2011/03/genetica-molecular-ciencias-biologicas_21.html

Aula 3: Transcrição
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2011/03/genetica-molecular-aula-3-transcricao.html
Aula 4: Processamento
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2011/04/aula-4-biologia-processamento.html

Aula 5: Código Genético e Síntese Proteica
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2011/04/aula-5-bioologia-codigo-genetico-e.html

Aula 6: Regulação (Parte 1)
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2010/05/genetica-molecular-aula-6.html

Aula 7: Regulação (Parte 2)
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2012/05/genetica-molecular-biologia-regulacao.html

Aula 8: Mutações (Parte 1)
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2010/05/genetica-molecular-mutacao-incompleta.html

Aula 9: Mutações (Parte 2)
http://aprendendogenetica.blogspot.com.br/2010/05/genetica-molecular-mutacao-ii.html

domingo, 15 de outubro de 2017

Educação - Parte 2 (O Mestre e o Discípulo)


Nesse nosso dia-a-dia corrido, há a dificuldade de se manter um blog funcionando semanalmente. Comecei postando 4 semanas seguidas em 2016 e depois sumi para retornar apenas esta semana. Curiosamente a última postagem de 2016 foi a postagem sobre Educação no Dia dos Mestres do ano passado. E aqui estou eu mais uma vez para falar sobre Educação no Dia dos Mestres desse ano. Ano passado comentei sobre "o aluno de hoje", mostrando que, em minha concepção, e com base em dados estatísticos (cuja fonte não consegui encontrar de novo), o aluno de hoje é o mesmo de sempre. A diferença é que ele está dentro das salas de aula e antes não estava. Hoje nós temos de lidar com essas dificuldades. Como também mencionei na postagem anterior, não há um dia em que eu não pense em alternativas para o problema atual da educação. E por "problema", vamos considerar o fato de haver um grande número de alunos que não acompanha mais o que lhes é ensinado. Há um grande desinteresse e, por consequência, indisciplina nas salas de aula. Existem vários fatores que atrapalham o aprendizado desses alunos, mas não conseguirei abordar todos nessa segunda postagem. Queria focar naquele que é considerado o problema primordial na educação dos dias de hoje: a indisciplina. 

Antes disso, entretanto, vamos entender o que seria a almejada disciplina. Etimologicamente falando, "disciplina" vem da raiz latina "discípulo" (Estrela, 1992, p.17). Outra possibilidade de interpretação (Garcia, 2006, p.70) é a de que sua origem está na palavra discípulus (composta do prefixo dis, e do verbo capere), o que podemos interpretar como "um indivíduo que se apropria de algo que lhe está sendo mostrado ou indicado". Daí o sentido de “discípulo” como "aquele que aprende". Ainda uma outra possibilidade é da palavra ser derivada do verbo latino disco, o qual pode ser traduzido como "aprender" ou "tornar-se familiarizado". Desse termo que se forma a palavra "didática", por exemplo, e é dele que vem o sentindo da palavra discípulo como "seguir" ou "acompanhar". (Essas informações foram extraídas do artigo "Reflexões Sobre Indisciplina: Construindo um Conceito Pedagógico", publicada pela PUCPR. Se tiver interesse em ler o artigo na íntegra, clique aqui). Enfim... não é meu objetivo ficar trabalhando o conceito e uma análise muito profunda do que vem a ser disciplina. A questão é que, independente da origem da palavra, todas elas levam à relação entre aluno e mestre, à formação de um discípulo, de um seguidor. Nesse sentido, não há como dissociar a aprendizagem da disciplina. A disciplina é um fator primordial no processo de ensino-aprendizagem. Sem ela, não há como o indivíduo aprender.

Agora que sabemos que disciplina é fundamental e a falta dela - a indisciplina - o maior obstáculo ao trabalho de um professor, vamos entender o que leva a essa indisciplina. Segundo o Zen-Budismo, a relação mestre-discípulo é uma escolha. Um artigo publicado no site Sobre Budismo (que pode ser lido na íntegra aqui), diz que "três características definem o discípulo: silente, obediente e não resistente". Curiosamente são as 3 características que nos faltam hoje em muitos alunos. Eles são falantes e barulhentos na maior parte do tempo, são desobedientes (não querem seguir as regras) e são resistentes àquilo que os mestres querem ensinar. Mas por que isso ocorre? Ainda embasado no artigo acima, o discípulo precisa se sentir conectado com o mestre. É preciso, antes de tudo, se sentir bem na presença daquele mestre, perceber que o mestre fala diretamente com seu coração. E o problema é esse: não há a tal conexão, não há um bem-estar, o mestre não fala diretamente com o coração do aluno. E por que tal conexão não existe? Há inúmeros fatores que poderiam justificar e eu teria de fazer uma nova postagem só pra explicar as suas origens. Mas em síntese, podemos citar a falta de infraestrutura social e familiar da qual vêm a grande maioria dos alunos. E não me refiro somente à criança carente que mora numa comunidade e assiste tiroteios diários na porta de sua casa. Me refiro também à criança de classe média cujos pais trabalham tanto que não tem tempo a dedicar aos seus próprios filhos, suprindo sua ausência com bens materiais e não afetivos. Essas crianças chegam à escola já com inúmeros problemas pessoais não resolvidos. Muitas das vezes a escola se torna um local de escapismo e de interação social, o momento no qual finalmente conseguem se ver longe de todos os problemas que as cercam. E se nesse momento, o professor não conseguir de alguma forma atrair a sua atenção... já era! É vencido por uma série de outros fatores concorrentes muito mais atrativos, como a conversa sobre o fim de semana, o smartphone, uma revista em quadrinhos, etc. Parece uma tarefa impossível vencer esse tipo de concorrência, não é mesmo? 

O mundo atual está cheio de atrações muito mais interessantes do que uma sala de aula, isso é um fato. Se você quer entender o aluno, basta colocar-se na posição dele. Imagine que você tem de assistir a uma palestra chata do seu ambiente de trabalho. Imagine que seu smartphone está vibrando com mensagens divertidíssimas de algum grupo de WhatsApp que você participa. E imagine que duas pessoas ao seu lado estão discutindo os lances do último jogo do seu time do coração ou cenas de um filme que você viu no cinema e adorou. Consegue entender o aluno? A maioria não resiste. Poucos é que teriam a disciplina necessária para se manterem concentrados e focados no palestrante. E isso, somente se estiverem conectados com o assunto, entendendo a relevância do assunto para o seu trabalho. Se você em algum momento perceber que todo o blábláblá que está sendo dito não fará diferença alguma no seu cotidiano, você facilmente cederá à dispersão. É o caso dos personagens Daniel San e Senhor Miyagi, do filme Karatê Kid de 1984 (imagem de capa deste artigo). Senhor Miyagi tenta ensinar Karatê a Daniel através de técnicas sutis, que não parecem em nada com Karatê, como lixar o seu assoalho, encerar seus carros e pintar suas cercas. Por mais ávido que Daniel estivesse a aprender Karatê, a falta de entendimento sobre o que estava sendo passado e seu objetivo o levou à uma explosão contra seu Mestre, pois achou que estava sendo usado como mão-de-obra e não um discípulo. A cena em que a lição é finalmente entendida pode ser vista aqui. Além disso, se você não se conectar ao que está sendo dito, também cederá à dispersão. Imagine-se numa palestra cujas palavras proferidas pelo palestrante você mal consegue compreender, ou porque ele tem uma péssima dicção ou porque está num idioma diferente. Consegue manter sua atenção focada nesse caso? Então imagine um aluno que apresenta uma enorme defasagem sobre o que está sendo dito em sua frente. Por mais esforçado que seja, se ele não consegue entender o que está sendo dito, se a conexão não surge, a dispersão vence. Eu mesmo já passei por esse tipo de situação algumas vezes. Sou professor de Biologia, mas dou aulas interdisciplinares de vez em quando. Certa vez fui dar uma aula interdisciplinar entre Biologia e Matemática. Quando meu colega de trabalho começou a trabalhar os conceitos matemáticos envolvidos numa questão de vestibular, me senti como esse aluno. Eu tentava me conectar à aula, mas eram conceitos que há muitos anos não via. Uma enorme dificuldade de compreensão se apossou de mim até que em determinado momento desisti e fiquei esperando ele acabar de falar para poder voltar à minha Biologia. Imagine agora um aluno que passa por isso diariamente? Percebem o nível do problema? Se você não consegue entender algo, você perde o interesse. Se você perde o interesse, a dispersão ocorre. Se a dispersão ocorre, há uma boa probabilidade da indisciplina surgir. Sacou?

E como trazemos essa disciplina de volta então? Infelizmente não tenho essa resposta. Seria muita pretensão da minha parte achar que posso montar um guia nesse sentido. Mais uma vez é preciso deixar claro que meu objetivo com esse artigo é apenas expor algumas de minhas ideias na esperança de que elas sirvam de ajuda a outros colegas de profissão que também se questionam sobre as mesmas condições de trabalho. Tudo o que posso fazer nesse momento é enumerar algumas situações que fui notando nesses 15 anos de magistério, além de informações provenientes de leitura e palestras assistidas. Nesse sentido, percebo que a maioria dos profissionais da educação acaba apelando para o "controle aversivo", ou seja, acabam caindo no autoritarismo. E é preciso ter em mente que ser uma autoridade não significa ser autoritário. "Autoridade (do termo latino auctoritate) é um sinônimo de poder. É a base de qualquer tipo de organização hieraquizada, sobretudo no sistema político. É uma espécie de poder continuado no tempo, estabilizado, podendo ser caracterizado como institucionalizado ou não, em que os subordinados prestam obediência ao indivíduo ou à instituição detentores da autoridade" (Wikipédia). Ser uma autoridade, portanto, é ser obedecido e respeitado por aqueles que estão numa escala hierárquica abaixo da sua. Acho que quanto a isso, ninguém discorda. A discordância surge no momento em que um indivíduo acha que respeitar é sinônimo de temer.  Muitos profissionais da educação acabam apelando para o medo, pois acreditam que o aluno que tem medo dele é um aluno que o respeita. Se há uma coisa que aprendi nesses 15 anos de trabalho e estudo é que isso é um grande equívoco. Para compreender o que quero dizer, imaginemos um exemplo cotidiano. Imaginemos que há um cruzamento entre duas ruas onde ocorrem muitos acidentes. Para diminuir a colisão entre os automóveis, alguém coloca uma placa escrita "pare". Pode ser que alguns a obedeçam, mas muitos continuarão avançando e colidindo. Uma autoridade coloca então um sinal de trânsito. Pode ser que a maioria pare no sinal vermelho, mas alguns ainda avançarão e causarão acidentes. A prefeitura manda instalar radares de avanço e maioria para, mas alguns ainda vão usar estratégias para camuflar as placas de seus automóveis, dobrar as placas das motocicletas, etc., de forma a não serem identificados. Percebe-se que a imposição de uma regra, pura e simplesmente, não soluciona o problema. É preciso nesse caso algum tipo de transformação na mente do indivíduo para que ele compreenda a importância de se respeitar aquela parada. Muitas vezes como a educação não funciona, apelamos ao autoritarismo. A prefeitura indica então um guarda de trânsito ao local. A coisa parece funcionar. Enquanto aquele guarda está ali, ninguém avança, mas é só o guarda sair do local que as pessoas voltam a infringir as regras. Isso significa que as pessoas não fazem isso em respeito à regra, mas apenas por medo, ou seja, não houve uma real transformação do indivíduo. O indivíduo não mudou sua postura, não aprendeu de fato. Se tivesse de fato aprendido, não haveria nem mesmo a necessidade de algum tipo de sinalização no local. Trazendo agora a situação para uma sala de aula, um professor autoritário consegue fazer seus alunos ficarem em silêncio enquanto ele discursa, mas não significa que eles estejam de fato aprendendo. Na maioria das vezes é justamente o contrário: estão apenas esperando o professor acabar de falar (seja lá o que ele estiver falando) para então voltar às atividades que julgam pertinentes. Faz sentido isso?

Outra questão que vejo é o fato de alguns professores confundirem rigidez com grosseria. Um professor rígido faz com que as normas sejam seguidas à risca. Ele pode chamar a atenção do seu aluno e fazer as regras serem cumpridas com um sorriso no rosto. Ele pode fazer a justiça prevalecer, mas com grande carinho pelo seu educando. Mais uma vez, a confusão feita entre respeito e medo é o que leva alguns profissionais a apelarem pra grosseria com seus alunos. E a grosseria só tem o efeito oposto: distancia o aluno, rompe-se a tal conexão entre mestre e discípulo. Por isso professores que impõem medo em sala de aula são os mais criticados e "zoados" por seus alunos na sua ausência. Já um professor que conquista seus alunos com carinho e atenção, que sabe impor as regras com justiça e educação, costuma ser defendido mesmo fora da sala de aula. Ele é de fato uma autoridade respeitada, não um autoritário temido. Entendem? Concordam?

Uma última questão que gostaria de abordar são as defasagens culturais e conceituais que os alunos carregam. tais defasagens fazem com que haja uma extrema dificuldade na manutenção da concentração desses alunos, levando-os à famigerada indisciplina. Nesse caso, como proceder? O ideal seria identificar todas essas defasagens conceituais, registrando-as e solucionando-as uma por uma. Se isso já seria muito difícil a um profissional da educação com 1 aluno, imagine com 40 deles dentro de uma sala de aula e em diferentes níveis de defasagem? Talvez uma mudança no tipo de cobrança funcionaria (e pra falar de método avaliativo, levaria uma outra enorme postagem). Acho que uma forma de simplificar seria dizer que se "o objetivo da educação é que o aluno aprenda", talvez uma flexibilização na cobrança seja necessário. Aprender pode ser visto como "subir um degrau" e não necessariamente como "absorver tudo". Se o aluno subiu de nível, ele aprendeu. Talvez não tudo o que era desejado, mas teve algum nível de avanço. Uma avaliação justa deveria valorizar esse tipo de crescimento, medindo as competências adquiridas pelo educando, e não as suas incompetências, como o sistema educacional acaba fazendo. Se eu julgo um indivíduo por tudo o que ele não é capaz de fazer, eu o desestimulo. E com o desestímulo, muitos desiste. Surge então novamente a indisciplina. Em alguns casos, dadas as dificuldades encontradas fora da sala de aula, um aluno talvez precise de algum tipo de assistência para conseguir alcançar seus objetivos. Mas muitos confundem atitudes assistencialistas com paternalistas, no sentido de "ser um pai que mima seu filho, livrando-o de todos os obstáculos à sua frente". Esse segundo caso é totalmente oposto ao propósito da educação. A educação visa tornar o indivíduo autônomo e não dependente. Portanto, o assistencialismo nesse caso é a ideia de dar a "assistência" necessária a este indivíduo necessitado, de forma que ele possa alcançar os objetivos educacionais. Nesse sentido, o assistencialismo é uma ferramenta útil no processo de ensino-aprendizagem de muitos educandos. Agora... se os programas que o estado oferece são na prática assistencialistas ou paternalistas, deixo a cada um de vocês julgar. A discussão sobre esses projetos passa pelos matizes ideológicos que são causa de discórdia e motivo da polarização nacional atual. Deixemos essa questão para discussões futuras.

Concluindo e sintetizando a questão: um discípulo só segue o mestre se quiser. E esse discípulo só vai querer seguir um mestre no qual ele acredita e tem afinidade. Muitas vezes o discípulo até quer seguir determinado mestre, mas tem dificuldade e precisa de algum tipo de ajuda ou assistência. E se nenhuma dessas premissas for atendida, o discípulo deixa de segui-lo e e surge então o ato da indisciplina. Para solucionar essa indisciplina, precisamos solucionar essas questões. Não é algo fácil, não depende de um só indivíduo. A solução exige um somatório de fatores, desde mudanças no âmbito individual até uma reforma no sistema educacional. Mas podemos contribuir para esse todo em nosso dia-a-dia no momento em que tratamos esse aluno com respeito, como um ser humano, agindo com empatia o suficiente para entender as suas dificuldades, entender a sua cultura, encontrando soluções não agressivas ou autoritárias, desconstruindo nossos conceitos e pré-conceitos, e trabalhando os nossos ideais. Ao menos é o que penso. E você? O que acha?

“Não existe mau aluno, só mau professor” (Senhor Miyagi)

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Existe Verdade Absoluta?


Essa pergunta é, em minha opinião, a mãe de todas as perguntas. É a pergunta cuja resposta deveria guiar todo o nosso esforço como humanidade. Vou tentar explicar o porquê...

Há alguns anos atrás, discutindo num grupo de debates via e-mail, essa ideia me veio à cabeça. Estávamos trocando ideias acerca dos mistérios sobre a origem do universo. É óbvio que vários pontos de vista foram explicitados. É claro que houve discórdia. Temos diferentes pontos de vistas religiosos, criacionistas, científicos, pseudocientíficos, místicos e metafísicos. Temos milhões e milhões de perguntas, mas não temos nenhuma resposta. Eu poderia abordar o tema em todos esses aspectos, especialmente do ponto de vista filosófico do que vem a ser "verdade" e o que seria a "verdade absoluta" e a "verdade relativa". Mas não é meu propósito com esse texto. Quero ir mais direto ao ponto e às minhas conclusões (as minhas verdades relativas? rsrs)

Para começar, vou utilizar o mesmo exemplo que utilizei naquela época. Imaginemos que um crime acabou de ocorrer: um assassinato. Um cadáver jaz no chão, mas ninguém viu o agressor, muito menos como se deu a morte da vítima. Peritos são acionados e as pistas são coletadas no local. Um perito diz que, a partir das pistas coletadas, o assassinato ocorreu de uma forma "A". Outro perito, embasando-se em diferentes evidências, diz que o assassinato se deu de uma forma "B". Temos então dois pontos de vista diferentes acerca de um mesmo crime, devido a uma coleta diferencial de dados. E ainda que exatamente os mesmos dados tenham sido coletados na cena do crime, existe a possibilidade de que duas interpretações diferentes surjam deles. E então? Quem tem a razão? Como saber qual é a verdade acerca do crime? Bem... eu obviamente não tenho a resposta. E talvez ninguém a tenha! Em muitos casos cotidianos como esse, a verdade é sempre relativa, parcial, dependente de dados limitados e interpretações pessoais, de paradigmas individuais. Por esse motivo, muitos alegam que não exista uma verdade absoluta. Que para tudo na vida há uma "verdade relativa" e, justamente por isso não devemos nunca brigar uns com os outros (cada um tem a sua própria verdade). Entretanto, esse tipo de pensamento não soluciona problema algum. O questionamento permanece insolúvel e as discórdias sempre existirão. Pode ser que muitos não se importem com isso... mas eu me importo! No exemplo acima do assassinato, como estamos tratando de algo concreto, material, fica mais fácil de entendermos a questão. Independente de quem está correto (o Perito A ou o Perito B), o fato é que um assassinato ocorreu e ele ocorreu de alguma forma. Alguém pode dizer que isso não é importante, que a pessoa continuará morta e ninguém poderá fazer nada a respeito disso. É verdade! Alguém pode alegar que, uma vez o criminoso tenha sido capturado e condenado, que a verdade acerca da morte não importa. Isso é outra verdade! Mas para aqueles que buscam o conhecimento, o entendimento acerca do mundo, a essência das coisas, tais respostas serão sempre insatisfatórias. E isso, também é verdade!

Se você que está lendo esse texto pensa como eu, você é uma pessoa que se inquieta diante de uma resposta insolúvel. A busca pelo conhecimento, pela chamada "verdade absoluta" é algo que movimenta a sua vida. Então, nesse sentido, num debate sobre a "origem do universo" como o exemplo que abriu esse artigo, embora não faça a mínima diferença prática no seu cotidiano se o universo foi criado por um fenômeno físico, uma divindade ou seres extraplanares, a pergunta te movimenta. Você sabe que, independente de existirem inúmeras verdades relativas (devido aos paradigmas pessoais de cada um), existe uma única verdade absoluta ainda não encontrada. Se vamos encontrá-la algum dia? Não temos como responder e talvez nunca consigamos. Mas o que te move é a pergunta e não a resposta em si. É o gosto pela busca, pela exploração no mundo do conhecimento humano. O fato de saber que a verdade está lá em algum lugar desafiando a inteligência humana é o suficiente para você. E como você sabe que essa verdade existe? Porque assim como o indivíduo do exemplo anterior não poderia ter sido assassinado de duas maneiras diferentes, o Universo (UNI = UM) não poderia ter sido criado de duas maneiras diferentes.  A única explicação que podemos utilizar para contradizer essa "verdade" seria se ao invés de um UNIverso, nós tenhamos um MULTIverso com realidades alternativas. Então, nesse caso, pode ser que um mesmo indivíduo tenha sido assassinado de uma maneira A num Universo A e de uma maneira B, num universo B. Da mesma forma é possível que o Universo A tenha sido criado de uma maneira A, enquanto o Universo B de uma maneira B. Mas se você parar para pensar, em ambos os casos, você se encontra nesse momento em um desses Universos paralelos contemplando um assassinato ou tentando entender a sua origem. E mesmo que existam múltiplas versões dos fatos dentro do Multiverso, você está numa dessas versões. E para essa versão do Universo sempre existirá uma verdade absoluta. Faz sentido essa afirmativa para vocês?

Enfim... eu poderia discorrer muito mais sobre o assunto, mas perderia o meu propósito com esse texto. Sintetizando a ideia: para todo fato, fenômeno ou assunto, há diferentes verdades relativas baseadas nas experiências e paradigmas de cada indivíduo, entretanto, sempre haverá uma verdade absoluta dentro do universo em que você se encontra. Como o diagrama no início dessa página demonstra, todos temos nossas crenças pessoais (nossas verdades relativas). Pode ser que essas crenças não tenham nada a ver com a realidade (área azul) e pode ser que a realidade não seja contemplada em nenhuma de nossas crenças pessoais (área vermelha). Mas quando nossas crenças coincidem com a realidade (área marrom), temos as crenças justificadas. E é dentro dessa área que se encontra o verdadeiro conhecimento, a busca a qual julgo que todos nós deveríamos fazer. Acredito que o avanço da humanidade (tanto no âmbito científico, quanto espiritual) se deve à descoberta contínua dessa área marrom. E o nosso trabalho de estudo e pesquisa visa fazer com que essa área marrom incida cada vez mais sobre a área vermelha, livrando-nos das falsas crenças e permitindo que encontremos a paz espiritual e harmonia entre os indivíduos.

Essa é a grande busca!
Esse costuma ser o meu propósito de vida!
Seria o seu também?
Se sim... junte-se a nós, nessa jornada! 😉

"Somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo" (Carl Sagan)