Finalizando a nossa "Trilogia das Gerações", hoje vamos entender melhor o conceito e detalhar a mais recente: a Geração Alpha!
Em primeiro lugar, temos de entender o conceito de "coorte histórico". Um coorte é um conjunto de indivíduos nascidos em um mesmo período histórico que, por este motivo, desenvolvem comportamentos característicos, impactando de uma maneira peculiar a sociedade em que vivem. Vimos nas postagens anteriores sobre que esse conceito de coorte ou "gerações", passou a ser utilizado no século XX. Em seguida, passou-se a dar letras do alfabeto para designá-las. A Imagem no topo deste artigo mostra que os indivíduos das gerações mais antigas que ainda estão vivos hoje, já têm mais de 70 anos de idade. Os Baby Boomers possuem algo entre 50 e 70 anos de idade. Indivíduos da Geração X (a minha) possuem algo em torno de 36 a 50 anos de idade, enquanto indivíduos da Geração Y estão na casa dos 21 a 35. A maioria das crianças e adolescentes em idade escolar pertencem à Geração Z, e estão na casa dos 6 a 20 anos de idade. E, por fim, aqueles que ainda nem completaram 6 anos já são chamados de Geração Alpha. Observem a composição populacional abaixo e sua respectiva projeção para os próximos anos, segundo institutos de pesquisa:
População por Gerações (em milhões de indivíduos)
Projeção Populacional até 2040 (Percentual)
Muitas áreas do conhecimento não aceitam a existência desse conceito, mas estudos na área de sociologia e demografia, entre outros, têm demonstrado que indivíduos que nascem num mesmo período de tempo tendem a ter comportamentos similares em decorrência de sua exposição à sociedade em que vivem. Em outras palavras, são frutos de seu "Zeitgeist". Se levarmos esse raciocínio para o âmbito das neurociências, perceberemos que a existência de um coorte histórico é totalmente plausível. Falaremos mais sobre neurociências em uma futura postagem, mas por hora basta entender que o arcabouço neuronal de um indivíduo é formado a partir dos estímulos que ele recebe do seu meio. Nesse caso, indivíduos que estão sujeitos a uma exposição a tablets, smartphones e outros tipos de mídia em seus primeiros anos de vida, terão um desenvolvimento cerebral diferente daquele ocorrido em gerações anteriores. Esse exemplo, inclusive, se refere à nossa próxima geração: a Geração Alpha.
Compreende indivíduos nascidos de 2010 até os dias atuais. São ainda MUITO novos, mas já apresentam características em comum que podem ser enumeradas. São crianças que já nascem expostas a uma tecnologia muito mais avançada que a das gerações anteriores. Nasceram num mundo com problemas ambientais alarmantes e uma produção de informação absurdamente alta, impossível de se acompanhar. Essas crianças são extremamente curiosas e espertas, aprendendo com uma grande facilidade, pois são bombardeada de estímulos. Provavelmente serão aquelas com a melhor educação de todas as gerações até então. Além disso, deterão o maior conhecimento tecnológico da história. Um sistema educacional voltado para essas crianças deve ser um sistema com foco na autonomia, baseado em projetos para aprender por meio de situações cotidianas. Crianças criadas dessa forma, provavelmente serão mais independentes e com maior habilidade em se adaptar a mudanças, competência essencial a um mundo em constante transformação. Seu relacionamento será menos hierárquico e mais horizontal. Serão desde cedo criadoras de conteúdo (já vemos, por exemplo, vários casos de crianças youtubers). Estarão conectadas à "internet das coisas", realidade aumentada, biohackings, impressoras 3D e 4D, terão produtos e serviços personalizados e sob medida. Nesse sentido, a educação para essas crianças deve caminhar mais em direção a um ensino voltado às necessidades e interesses desses alunos, e menos para o padrão sistematizado e hierárquico de tempos atrás. Pais e educadores se tornam cada vez mais orientadores do acesso à informação que se encontra disponível na palma de suas mãos. Se por um lado o conhecimento é de mais fácil acesso, por outro, um grande desafio se apresenta na forma das competências socioemocionais. Programas específicos para esse tema vêm sendo desenvolvidos em escolas na Finlândia, Estados Unidos, Austrália e Canadá, por exemplo. A habilidade em lidar com suas próprias emoções (Inteligência Emocional), para se comunicar, a criatividade, a responsabilidade, determinação, empatia, capacidade de tomar decisões e resolver problemas são exemplos de competências necessárias para lidar com o mundo atual. Essas competências são, inclusive, contempladas na Nova Base Curricular Comum Nacional para Educação Infantil e Ensino Fundamental que entrou em vigor este ano em nosso país.
Nota Pessoal: Como dito acima, crianças que nascem nessa era atual, já estão neurologicamente adaptadas ao mundo atual. É curioso que algumas são capazes de com tablets e smartphones intuitivamente, por assimilação do que os adultos fazem. Meu filho, por exemplo, que tem dois anos e meio, percebeu que um smartphone se usa deslizando os dedos sobre a tela em ziguezague e tentou reproduzir o movimento com cerca de 1 ano e meio de idade. Ele aprendeu a usar o meio digital antes mesmo de aprender a andar! E quando aprendeu a andar, tentou clicar nos ícones do Netflix na SmarTV. Percebem como ele entendeu o que era uma tecnologia "touch" sem ninguém ensiná-lo? (mas a TV não era touch e ele ficou frustrado... rsrs). Essas crianças que crescerão nesse mundo, repleto de informação precisam aprender a triá-la. Num mundo com tanta coisa a se fazer e com tanta coisa atrativa, os ambientes educacionais e profissionais se tornarão cada vez mais lúdicos, interativos, com horários flexíveis e menos hierarquizados. Chega de teoria, é a vez da prática. Chega de padronização, é a era do mundo personalizado. Alguns especialistas, entretanto, alertam para o fato de que um ambiente hiperestimulado deve dar lugar a um ambiente mais calmo e tranquilo de vez em quando. A criança precisa desenvolver outras habilidades longe desse mundo tecnológico. Nós vimos que todas as gerações anteriores tiveram vantagens sobre as predecessoras, mas cometeram alguns erros não previstos. Talvez um dos erros que essa geração possa cometer seja exatamente esse: o de esquecer o mundo real e trocá-lo pelo virtual. Devemos lembrar que crianças precisam ser crianças e brincar como crianças. Deve existir um equilíbrio!
Observação: Existe um conceito muito utilizado hoje em dia que é o de "crianças índigo". Segundo essa crença, os índigos seriam crianças especiais nascidas no mundo atual com o objetivo de levá-lo a uma "nova era". É muito utilizado por místicos, esotéricos e espíritas. Em termos científicos, esse estudo é meramente uma pseudociência (falaremos sobre pseudociências em outra oportunidade). O objetivo deste blog é tentar explicar o universo e a sociedade dentro de uma perspectiva científica e, portanto, o conceito de crianças índigo não cabe aqui. Entretanto, estou citando-o apenas para compará-lo com a Geração Alpha que acabamos de conhecer. Há uma proximidade conceitual entre elas. E nesse sentido, a explicação para a existência de crianças inteligentes e intuitivas não seria sobrenatural, mas sim neurológica. ;-)