Semana passada falamos sobre um princípio filosófico chamado "Princípio da Mediocridade". Esse princípio muito utilizado em astrobiologia pode também ser utilizado na argumentação. Isso significa que, ao iniciar um debate, você deve pressupor que todos os envolvidos sabem tanto ou mais quanto você, ou seja, o seu conhecimento é comum. É o ato de nunca subestimar os interlocutores, permitindo que seu próprio aprendizado seja potencializado. É exatamente o oposto do tema de hoje, o chamado Efeito Dunning-Kruger, tão recorrente nas discussões em redes sociais. Quer entender o que é esse efeito e evitá-lo sempre que possível? Leia este artigo...
Pra começar, tal efeito foi batizado em homenagem aos dois pesquisadores que o descreveram: Justin Kruger e David Dunning, da Universidade de Cornell, EUA. Ganharam por seu estudo um Prêmio IgNobel (uma paródia do Nobel), prêmio dado às descobertas científicas mais estranhas do ano, muitas das vezes irrelevantes, mas outras vezes não tanto, como este caso em questão. Em linhas gerais, trata do fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre determinado assunto acreditam saber mais do que especialistas, ou seja, uma superioridade ilusória que gera atitudes arrogantes e desinformação, em vez de esclarecimento e aprendizagem. Esse tipo de postura leva os indivíduos a tomarem decisões erradas e a incapacidade de compreender seus próprios erros. Em contrapartida, os indivíduos mais capacitados e com maior conhecimento sobre determinados assuntos, tendem a ser cada vez mais cautelosos e ter baixa confiança no que dizem, isto porque tomam ciência da quantidade de informação que ainda ignoram. Como disse o grande filósofo Sócrates: "Tudo o que sei, é que nada sei". Um ignorante, ao ouvir a mensagem de Sócrates, teria a sensação de que o filósofo estaria admitindo sua incompetência, quando na verdade ele demonstrava a sabedoria daquele que compreende a vastidão do conhecimento humano e o quanto é pequeno diante dela, ou seja, era uma atitude de humildade. Os indivíduos mais capacitados, muitas vezes acabam subestimando suas próprias habilidades e podem até mesmo sofrer daquilo que é chamado de Síndrome do Impostor, na qual não importa o quão habilidoso seja, sempre acha que os outros sabem mais que ele e, portanto, seria uma fraude, um impostor.
(Ignorem a legenda em azul. Foi o melhor gráfico que consegui encontrar)
O gráfico acima expressa de maneira clara que, quanto mais uma pessoa ignora um assunto, maior a confiança que ela tem, ao passo que, conforme a pessoa vai aprendendo e desenvolvendo sua habilidade, ela tem uma perda progressiva na confiança, resultado do autoconhecimento e da ciência de sua ignorância. A partir de determinado ponto, com o acúmulo de experiência, essa confiança volta a subir até o "platô da sabedoria". Mas notem que um indivíduo sábio, ainda assim, é de longe menos confiante do que o ignorante. Isto porque ele tem conhecimento das suas limitações e sabe que, por mais conhecimento que tenha, sempre há a possibilidade de estar equivocado. As pessoas incompetentes normalmente falham em reconhecer sua própria falta de habilidade ou de reconhecer as habilidades genuínas dos outros. Admitir erros não é para qualquer um! Sábio é aquele que assume não compreender a totalidade de um assunto e se predispõe a ouvir, mesmo que seja uma pessoa incompetente. Dunning, inclusive, chegou a dizer que "se você é
incompetente, você não consegue saber que é incompetente (...) [A]s
habilidades necessárias para fornecer uma resposta correta são
exatamente as habilidades que você precisa ter para ser capaz de
reconhecer o que é uma resposta correta." Ou seja... se você não tem habilidade para avaliar uma proposição correta, você nunca perceberá que suas proposições estão incorretas. É uma espécie de falha na formação lógica do indivíduo. Enfim... sintetizando... As bases educacionais de um indivíduo são fundamentais para que ele aprenda a diagnosticar suas próprias deficiências e, sempre que possível, corrigi-las. Por mais que o indivíduo sempre possa aprender e gerar novas conexões neuronais (tema para um post futuro), ele só conseguirá a partir do momento que assim desejar. É impossível ensinar algo àquele que não está disposto a aprender, que se acha completo, dono do saber. Outro grande filósofo, Bertrand Russel, foi bem mais agressivo em suas colocações. E é com ele que fechamos esta postagem: